Lição da EBD

CRESCENDO EM SANTIDADE

5 de Maio

LEITURA DIARIA
D   Êx 31.13 – Santificação do Senhor 

S   1Co 6.11 – Santificação transforma 

T   Hb 12.14 – Santificação necessária 

Q   1Pe 3.15 – Santificação no coração

Q   Ap 22.11 – Santificação continua

S   2Ts 2.13 – Santificação do Espírito

S   1Ts 4.3   – Santificação ordenada 

INTRODUÇÃO

A santificação, como objeto de nossa atenção, perdeu seu vigor. Hoje em dia, os livros que povoam as prateleiras das livrarias versam sobre versões “evangélicas” de autoajuda, a última habilidade ou alguma recém-descoberta técnica de obtenção de sucesso e prosperidade. O interesse do homem moderno pode ser o de “melhorar”, mas santificação vai muito além de simplesmente “atualizar” o caráter que se tem. Mas isso nem sempre foi assim. 

Em séculos anteriores, os pregadores de tradição reformada expunham o que a santidade de Deus requer de nós, o que a nossa santidade envolve da nossa parte e o que o Espírito Santo faz em nós. O interesse nesses temas gerava desejo de ver os efeitos práticos e benfazejos da doutrina da santificação.

Na contemporânea religião vida mansa, o compromisso com a santidade é visto como algo “fora da realidade”, “fora da mentalidade do terceiro milênio” ou como um ranço do legalismo. Ainda que a santidade não seja o interesse do homem moderno e sua religião sem compromisso, essa ainda é a exigência de Deus para o seu povo, em todas as épocas e lugares.  

I. O QUE É SANTIFICAÇÃO?

Da perspectiva cristã, santificar ou consagrar é colocar algo ou alguém aparte para Deus, quer em termos gerais, quer para algum propósito especial, e tê-lo aceito por Deus para a finalidade proposta.

Na Bíblia, nossa santificação é dada tanto como um aspecto realizado no tempo passado (At 26.18; Hb 10.10,14,29) quanto no presente e no futuro (1Ts 4.3-4; 5.23). Nesses últimos casos, dá a entender que se trata de um processo.

Os primeiros textos se referem ao aspecto relacional da santificação, que se torna real quando cremos, como acontece com a justificação e adoção; ou seja, é instantâneo. 

Os textos posteriores se referem ao processo transformacional, que dura a vida toda e que também é descrito como “crescimento na graça”, “crescer em tudo em Cristo” e ser “mudado de glória em glória” pelo Espírito (2Pe 3.18; Ef 4.15; 2Co 3.18; cf. Rm 12.2). As metáforas de crescimento e mudança gradativa são claros indícios de que a santificação se estenderá por todo o tempo que Deus nos der aqui. E é a essa transformação progressiva que a palavra santificação se refere regularmente na teologia cristã. 

II. CHAMADOS À SANTIDADE

“Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17), orou Jesus. Essas palavras nos dizem respeito, pois nosso Senhor orava não somente pelos que em sua época criam nele, mas também por todos quantos viessem a crer, por intermédio da pregação da palavra (v.20).

Mas especial atenção precisa ser dada aqui. No verso 19, Jesus diz se santificar, ainda que diga ser a santificação dele a base da nossa. Mas por que Jesus diz que vai se santificar sendo ele, por natureza, santo?

Precisamos fazer distinção clara entre a nossa santificação e a dele. A auto santificação de Jesus foi o ato específico de se colocar a parte para ser o sacrifício pelos pecados de seus discípulos. Por isso ele diz que se santifica “em nosso favor”.

A nossa santificação, por outro lado, diz respeito a sermos colocados à parte por inclusão para sermos o povo santo de Deus em todos os aspectos de nossa vida. A santificação de Jesus era uma obra realizada por ele mesmo. A nossa santificação, entretanto, é uma obra de Deus sobre e em nós.

Mais à frente retornaremos a este ponto, mas é importante notar que a nossa santificação tem por base a verdade revelada na Escritura e ocorrerá “na verdade”, que é a palavra de Deus (cf. v.17). 

III. FUNDAMENTOS DA SANTIFICAÇÃO

Para sabermos aquilo em que cremos sobre a santificação, seguem-se os pontos referenciais e definições básicas dessa doutrina:

A. O contexto 

 O contexto da santificação é a justificação pela fé por intermédio de Cristo. Quem é santificado foi justificado de seus pecados, salvo pela graça e agora vive cada dia em novidade de vida por ter sido perdoado por Deus.

B. A base

A base da santificação é a união com Cristo em sua morte e ressurreição. A vida santa é a vida de Cristo em nós, não o fruto de nenhum potencial ou de recursos naturais que tenhamos para viver piedosamente. 

C. O agente

O agente da santificação é o Espírito Santo, que nos capacita habitual e ativamente a querer e a agir para o agrado de Deus e para seu louvor. Contudo, ainda somos nós quem trabalhamos – não há passividade aqui, mas um esforço moral intenso da nossa parte. Tal esforço não nos faz confiar em nós mesmos, mas na dependência de Cristo e na expectativa de ter ajuda do Espírito. Levando-nos a formar os hábitos de santidade, o Espírito nos transforma à imagem moral de Cristo.

D. O conflito

A santificação estabelece um conflito com o pecado que habita em nós. O conflito, que dura a vida toda – portanto, não deve gerar a expectativa de uma vida de absoluta ausência de pecados – envolve tanto a resistência aos ataques do pecado como o contra-ataque da mortificação da carne, pela qual buscamos esgotar a vida desse inimigo perturbador. 

E. A regra

A regra de nossa santidade é a lei de Deus. O cerne de nossa santidade é o amor do nosso coração em gratidão e boa vontade a Deus e aos outros por amor a ele. A expressão de nossa santidade é nossa semelhança com Jesus, isto é, nossa manifestação do fruto do Espírito (Gl 5.22-24), que é o perfil moral e espiritual de Jesus em seus discípulos.

IV. AS ESCRITURAS E A SANTIFICAÇÃO                 

Na oração de Jesus (Jo 17) lemos que a santificação tem por base a verdade, que é a palavra de Deus. A pergunta que se levanta, então, é: de que maneira opera a Escritura em relação à santificação se esta é uma obra do Espírito Santo? 

A . Mostrando a natureza da santificação

A Escritura Sagrada é que diz que a santificação é uma obra de Deus. Ela não é uma moralidade natural, mas é aquela ação que sobrenaturalmente nos conforma a semelhança moral e espiritual de Jesus. Aqui é importante dizer que essa santificação deve ser executada e expressa nos relacionamentos íntimos e exigentes da igreja de Cristo, principalmente na igreja local, na família e nos relacionamentos mais amplos do trabalho, cidadania e ação social (Rm 12.1-15.13; Cl 3.1-4.6; Ef 4.1-6.20; 1Pe 1.22-4.6). 

B. Mostrando o padrão da santificação

A Escritura Sagrada nos mostra o padrão da santificação. Esse padrão é a lei moral de Deus apresentada nos Dez Mandamentos, mas que posteriormente foi resumida nos dois grandes mandamentos de Cristo: amar a Deus e ao próximo (Mc 12.33). Calvino chamou isso de “terceiro uso da lei”. Após Lutero ter dito que a lei de Deus deveria servir de base para a justiça civil no estado cristão e como fonte de convicção do pecado, havia um terceiro uso da lei, conforme Calvino, que incentivava e estimulava a prática da retidão.

A ideia é que a lei é o código família de Deus para seus filhos. Neste mundo, os filhos da realeza vivem sob o olhar público, por isso muito se espera deles. Se há lapsos morais, são notados. O mesmo acontece conosco, os filhos de Deus. O mundo nos observa e nota se caímos em pecado. Então Deus é desonrado, e cai o grau de credibilidade dedicado à fé cristã naquilo que afirma que Deus nos renova na retidão. 

C. Mostrando a necessidade da santificação

Essa necessidade pode ser vista em vários lugares na Escritura. Em Levítico 19.2 lemos a ordem que diz: “Santos sereis, porque eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo”; e em Hebreus 12.14 fala-se da “santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor”. Pedro acrescenta que “segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento, porque escrito está: “sede santos, porque eu sou santo” (1Pe 1.15- 16). O apóstolo Paulo também diz que fomos escolhidos em Cristo desde antes da fundação do mundo para “sermos santos e irrepreensíveis perante ele (Ef 1.4); Cristo se entregou em amor pela igreja “para a santificar” (Ef 5.25-26), reiterando que a nossa santificação é a vontade de Deus para nós (1Ts 4.3,7). 

A santificação não é opção, mas parte integrante do todo da salvação, assim como o arrependimento e a consagração que levam a busca da santidade são parte integrante da resposta que o evangelho pede. O plano de Deus é salvar-nos do pecado, não no pecado; portanto, a necessidade da santidade deve ser reconhecida e aceita.

Em resumo, embora não estejamos sob a lei como sistema de salvação, somos divinamente orientados a guardá-la, conforme Cristo a expos, como regra para nossa vida, em gratidão pelo que já somos (1 Co 9.21; Gl 6.2). 

V. A SANTIFICAÇÃO DOS SALVOS

A santificação é uma marca tão relevante da vida cristã comum que ninguém deveria se ver no direito de crer que é participante da salvação de Deus a não ser que ande no caminho da obediência e do serviço consciente e intencional dedicado a Deus.

Veja que a evidência bíblica fundamenta essa conclusão. Em 2 Pedro 1.3-11 aprendemos que o progresso na santificação é o único modo de assegurar nosso chamado e eleição. O apóstolo Paulo também escreve em vários lugares, como em 1 Coríntios 6.9-11, Gálatas 6.7-8 e Efésios 5.5-6, dizendo diretamente que as pessoas não santas que disserem que têm segurança estão iludindo a si mesmas, porque o caminho que seguem só conduz à ira e a exclusão do reino de Deus.

A santificação é uma evidência da nossa salvação, e a fé cristã jamais poderá prescindir essa característica como marca da verdadeira religião. 

CONCLUSÃO 

Carecemos desesperadamente de reabrir a estrada da santificação, primeiro e antes de tudo em nossa própria vida. Que nos seja dada a graça de escutar o que o Espírito está dizendo às igrejas sobre a santificação, isto é, sobre a maneira como a oração de nosso Senhor por nós em João 17.17 é experimentada. 

APLICAÇÃO

Atenda ao apelo do Senhor Jesus e procure a santificação: o alvo do cristão não é simplesmente “melhorar”, mas se santificar conforme o Deus santo.

Entenda a santificação: embora nos envolva ativamente, a santificação não é nem apenas fruto de nossos esforços nem resultado de nossa indolência.

Recorra constantemente à Escritura: a intimidade com o texto bíblico, cultivada pela sua leitura diária, é um exercício fundamental para crescer em santidade.